TRADIÇÃO MUNICIPAL

Moradora diamantinense comanda há 40 anos no quintal de casa tradicional festa de São Gonçalo

Romana Maria Magalhães cumpre desde 1983 a promessa feita pela mãe

Data: 29 de Janeiro de 2023
Autor: Anna Clara Capistrano
Fonte: Superintendência de Comunicação

Foto por: John Oliveira

Há 40 anos, Romana Maria Magalhães realiza no quintal de seu sítio, localizado no município de Diamantino (a 180 km de Cuiabá-MT), a tradicional festa religiosa de São Gonçalo. A festividade, que é comemorada neste mês de janeiro, reuniu em sua última edição cerca de 100 devotos, entusiastas e admiradores da tradição diamantinense.

A celebração marca a devoção por São Gonçalo do Amarante, padroeiro do casamento e protetor dos violeiros e dos atingidos por enchentes. Com rezas, canções embaladas pelo som das violas, danças como siriri e cururu, brincadeiras e comidas, a comemoração atrai visitantes de todo o estado.

Explicando o ínicio de tudo, Romana Maria, de 69 anos, destacou que a promessa de sua mãe ao santo surgiu após a filha, recém-casada, sofrer uma queda e machucar seriamente o joelho, debilitando seu estado físico e atrapalhando sua locomoção.

“Minha mãe sempre foi de promessas, ela tinha uma para Nossa Senhora do Bom Parto. Depois que machuquei o meu joelho, caindo com o meu marido, ela decidiu fazer a promessa para São Gonçalo. Foi então que a dor sumiu e minha família se tornou devota”, relembrou.

A festeira ainda recordou o momento difícil quando precisou assumir a promessa para si. 

“Minha mãe faleceu em 1982 e então minha dor na perna voltou mais forte. Comecei a rezar e percebi que eu deveria fazer a promessa para São Gonçalo e continuar com a celebração. Em 1983 realizei a minha primeira reunião e a dor sumiu. Está tudo certo até hoje”, ressaltou. 

Revivendo lembranças, Romana compartilhou memórias sobre as primeiras participações de devotos de fora de seu núcleo familiar.

“No início, eu fazia somente a reza e uma janta para minha família. De uma hora para outra, o povo de Diamantino começou a descobrir sobre a promessa e a vir até minha casa. Pessoas chegavam pedindo para eu rezar por elas, para elas melhorarem, e assim eu fazia. Eu não tinha condições de alimentar todos, então cada um começou a colaborar com um prato e com o passar dos anos virou uma tradição”, pontuou.

Romana também dividiu como os filhos, devotos desde crianças, contribuíram com novas ideias para a tradicional festividade.
 
“Nas primeiras celebrações era somente a reza e a janta. Conforme minhas crianças foram crescendo, começaram a querer incluir brincadeiras e depois o baile. Todos que participavam pareciam gostar. Hoje em dia nós rezamos, jantamos, cantamos e dançamos”, compartilhou a matriarca.

Benedito Carlos de Moraes de 77 anos, marido de Romana, explicou que sempre acompanhou a esposa e a família nos anos de devoção e celebração ao santo.

“Nos casamos em 1974 e sempre estivemos juntos na devoção, fazendo as rezas com os pais dela (Romana) e depois com os nossos filhos. Hoje, nossa família é grande, temos 6 filhos, 12 netos e 1 bisneto. Todos devotos”, falou.

O festeiro também comentou sobre as 13 imagens de santos que a família recebeu de presente dos diversos participantes da celebração de São Gonçalo ao longo dos anos.

“Estão todas aqui no altar dentro de casa. Mais tarde será colocado no altar da festa. Nós temos duas imagens do nosso padroeiro, uma delas foi um padre que nos deu, abençoando nossa celebração”, relembrou.

O patriarca complementou lembrando que algumas imagens são presentes de visitantes após recuperarem a saúde participando da reza. “Ano passado chegou uma pessoa com muita dor em toda perna, dançamos o São Gonçalo e no final da festa ele me disse ‘não sentia mais dor’. Ganhamos uma imagem como agradecimento”, frisou.

DEVOTOS

A aposentada, Felicidade Ferreira Mendes, de 65 anos, responsável por preparar o altar para a chegada da imagem do santo, compartilhou que tem esse compromisso desde os 18 anos.

“Quando criança fui mordida por uma cobra, bem na região da canela, e minha mãe ficou com medo de eu não poder mais caminhar. Ela rezou para São Gonçalo, prometeu que se eu me recuperasse bem, quando ficasse maior de idade, montaria um altar em sua homenagem. E hoje eu estou aqui e bem, montando o altar desde os 18 anos”, explicou.

Felicidade ainda compartilhou que recebe ajuda de suas duas filhas e que depois de partir elas serão responsáveis por continuar a promessa.

Edvaldo Carlos de Moraes, de 41 anos, filho de Romana e Benedito, relembrou um momento de saúde difícil que foi superado após a realização correta da celebração.

“Algumas vezes a data da festa cai em dia de semana e por conta disso algumas pessoas não podem comparecer. Pediram então para meus pais fazerem a comemoração no sábado, eles aceitaram, mas então acabei sendo acometido com uma febre muito grave, fiquei de cama”, compartilhou.

O filho comentou sobre como recuperou sua saúde. “Meus pais rezaram e perceberam que a devoção deve ser feita na data certa. Informaram a todos que seria no dia de semana e no outro dia eu acordei saudável, como se nada tivesse acontecido", ressaltou. 

A pequena Thassila Vitória, de apenas 07 anos, iniciante na devoção, comentou como é participar da festividade desde nova.  

“Eu gosto de vim e ver minha avó rezando. Também brinco e danço bastante aqui. É tudo sempre bonito e decorado, eu me divirto bastante”, falou. 

O ato da celebração ao santo acontece todo dia 10 de Janeiro e é marcado pela subida do mastro de São Gonçalo e comemoração das promessas. A festividade se encerra no primeiro sábado após a data de início e é marcada pela retirada do mastro.
 

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